Título original: Revival
Autor: Stephen King
Publicação: 2015
Número de páginas: 373 páginas
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9788581053103
Caros amigos viciados em livros, o que dizer de Stephen King? Gênio? Visionário? Uma avalanche avassaladora quando o assunto é escrever? Sim, tudo isso, e muito mais, por isso eu estava com expectativas gigantescas quanto a Revival, um de seus livros mais recentes e que nos traz, pelo menos na sinopse, uma proposta narrativa que em muito me lembrava seus melhores trabalhos, com todos os elementos que lhes são característicos.
O cenário, claro, uma cidadezinha no interior do Maine (neste caso, nos anos 1960) marca registrada de King. Nela somos apresentamos à nossa dupla de protagonistas principais, Jamie Morton, o caçula de uma típica família americana suburbana, e Charles Jacobs, um reverendo metodista, recém-chegado à cidade para assumir a congregação local. Aos poucos seus caminhos se cruzam de uma maneira muito intensa, depois de um dos irmãos de Jamie sofrer um acidente e perder a voz. É aí que – depois de os médicos não encontrarem uma solução para o problema – Jamie, em um ato derradeiro de desespero, busca ajuda em Jacob, este, por sua vez, conhecido também por sua estranha e obsessiva crença na suposta capacidade, quase absoluta, de cura, de uma das forças mais intensas e perigosas da natureza: a eletricidade.
Achei o início do livro muito promissor, sólido e tenso, com reflexões teosóficas interessantes tendo, como pano de fundo, uma série de eventos inesperados, sobretudo, um desastre que acomete a família do, então, inabalável, reverendo Jacobs. Até aí, tudo certo, eu estava muito conectado com a estória, até pensei, pelo andamento da narrativa, que teríamos uma releitura de um dos clássicos de King: O Cemitério – mas com a eletricidade como a força capaz de conectar o mundo dos vivos e dos mortos – com uma boa dose complementar de Frankenstein, de Mary Shelley.
Mas, então, a partir destes eventos, achei que a narrativa se perdeu um pouco, não quanto ao fio condutor da trama (que ressalte-se, novamente, é bem interessante), mas por ser excessivamente descritivo quanto aos detalhes da vida dos protagonistas. Achei muito, mas muito chato certas partes e, sinceramente, acho que King conseguiria contar a estória, com a mesma intensidade, em metade das páginas. Até entendo que mostrar o caminho seguido pelos personagens era importante: o papel devastador do vício em drogas na vida de Jamie; a completa perda da fé naquilo que se considerava verdade absoluta; a busca de Jacobs por uma força que estava muito além da capacidade de compreensão humana: o potestas magnum universum; o sobrenatural subtendido, enfim, mas. .. mas, em minha modesta opinião, houve um certo exagero nesta dose.
Por exemplo, a parte em que Jamie, muitos depois de sair do Maine, volta para uma reunião familiar. Achei super entediante! Cada momento foi descrito, em todas as minúcias. Como ele próprio, Jamie, diz em uma parte, reviver momentos em família é legal, mas só para quem é da família. E foi assim que me senti, um estranho sem saber o que fazer, torcendo para aquilo acabar logo. Até estava esperando alguma coisa inesperada acontecer, algo que proporcionasse uma reviravolta arrebatadora na trama, estilo Brandon Sanderson, mas nada aconteceu. E este foi só um exemplo, há outras várias partes do livro que poderiam ser suprimidas sem prejuízo algum ao desenvolvimento da trama.
Outro aspecto que não gostei muito: os personagens, de uma maneira geral! Não que eles fossem desinteressantes ou mal construídos, mas não senti a mínima empatia por eles. Se morressem, sumissem, fossem abduzidos, sei lá, para mim não faria a menor diferença. Como o próprio King disse certa vez em uma entrevista, “a melhor maneira de assustar o leitor é fazê-lo gostar dos personagens”. Mas, infelizmente, comigo não funcionou desta forma. Os personagens em Revival não foram do tipo com os quais estou acostumado, em que ou você os ama ou os odeia. Eles foram, simplesmente, mornos, um tanto insossos. Tampouco entendi muito bem a relação entre Jamie e Jacobs: amor ou ódio, admiração ou medo… enfim, achei confusa a forma como ela se desenvolveu.
Sem querer ser redundante, mas já sendo, por fim, o final. Apesar de achá-lo interessante, mas não sensacional, fiquei mais decepcionado do que satisfeito. Ele me pareceu um tributo de King ao terror absurdo, hipersensorial, de H.P. Lovecraft, e, depois de tudo o que tive que ler esperando por um desfecho épico vê-se, então, um final que, sinceramente, ficou muito aquém da narrativa que, por sua vez, já não era lá essas coisas. Talvez eu esteja sendo demasiadamente ácido em minhas considerações, mas em se tratando de Stephen King, um ser mitológico que há muito transcendeu o mero mundo dos mortais, eu acho que o final poderia ser diferente, sobretudo depois das expectativas criadas ao longo da narrativa.
Mas, acredito eu, que os fãs de Lovecraft terão uma opinião, no mínimo, mais elogiosa que a minha. Contudo, diga-se, há várias críticas positivas sobre a obra, e, na verdade, elas são a esmagadora maioria, motivo pelo qual a escolhi como leitura. Mas é aí que reside a graça não é mesmo, na diversidade de opiniões. Haaa, e não se esqueçam de dar uma passadinha por aqui para compartilhar conosco suas impressões. Estou muito, mas muito curioso para saber o que vocês, amigos leitores compulsivos, acharam desta obra!
Oi, Fábio! Resenha fodástica como sempre. Eu gostei muito do livro, mas mais pelo lado lovecraftiano da obra. E também senti essas falhas apontadas por vc, mas no geral acabou sendo uma ótima leitura, embora o livro esteja longe de ser o melhor livro do autor e o meu preferido dele. Abs!
Menina, tu tens razão. O livro é bom, mas quando falamos de King tudo assume proporções gigantescas. Eu confesso que pela linda capa e pela sinopse eu estava esperando algo arrebatador. No início até achei que seria assim, mas na medida em que a narrativa se desenrolava eu fui perdendo o encanto pela obra. Certamente, uma leitura com as lentes de Lovecraft dão outro tom, sobretudo, quanto ao final que foi muito psicodélico. Mas, no geral, foi legal a leitura. Deu até vontade de reler O Iluminado, que é um dos meus projetos de leitura assim que as obrigações cotidianas derem uma trégua! Sei que vc é muito fã do King e que, certamente, sua leitura foi muito mais cuidadosa e criteriosa que a minha. Só não gostei tanto da obra como vc. Acho que, pela linha condutora da narrativa, a estória poderia ter sido muito mais intensa, assustadora e surpreendendo.
Caramba, Fábio! Foi a minha vontade ao terminar esse livro: reler O Iluminado. Será que outros sentiram o mesmo, pq esse livro tem uma aura bem do tipo do O Iluminado, embora Revival seja mais fraco. Sim, o King se perdeu um pouco, mas eu encarei como uma narrativa muito a ver com o fato do Jamie ficar mais velho e ver o mundo por uma atmosfera menos intensa mesmo, mas gostei muito das suas observações. É bom quando alguém percebe um lado da obra que a gente não vê/viu.
Vc tem razão, Cassy. Só acho que faltou uma pitada de ação eqto a vida de nossos protagonistas tomava rumo. O livro é bom, mas, sabe, eu criei uma expectativa tão alta que acabou me atrapalhando um pouco, talvez pela ansiedade . Acho que se eu começasse a leitura esperando menos, teria gostado – e me divertido – muito mais. E enquanto eu lia pensava mais em O Iluminado do que no Revival em si, como é que pode né? Como ele, o livro, conseguiu nos fazer sentir tão intensamente a vibe de outra obra? Demais!
Eu estou dentre os leitores que gostaram muito da obra, mas longe de ter achado um dos melhores do King que li até agora. Concordo que a história poderia ter sido contada em um número menor de páginas, principalmente na metade do livro.
Olá Maurilei. Pois é, o livro não é ruim, longe disso, mas comparado a outros trabalhos de King, achou que deixou a desejar. Uma pena, até pq a premissa era super interessante.